Treinador campeão fala da carreira de Vinícius e do vôlei sergipano
“Fazer com que o atleta treine mais a partir da experiência adquirida ao longo do tempo”. O autor desta frase é Raymundo Luiz da Silva Filho, o Raimundinho, de 43 anos, que desde cedo pratica esportes. Formado em Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe em 1986, Raymundinho fez do vôlei sua paixão a partir dos 14 anos. Foi jogador por 6 anos e há 23 é técnico da modalidade. Por sua competência, assumiu o comando técnico da Seleção Sergipana de Vôlei entre os anos de 1990 a 1996.
Filho de Raimundo Luiz da Silva, jornalista sergipano e fundador de diversas empresas de comunicação no estado, e da dona-de-casa Maria de Lourdes, Raymundo concedeu, na segunda-feira, entrevista ao Esporte-SE falando de momentos como treinador, a relação com Vinícius Santana, do vôlei de praia, e da realidade do vôlei sergipano
Esporte-SE: Por que decidiu jogar vôlei?
Raimundinho: Desde pequeno, sempre gostei de futebol. Em 1978, quando estudava no Salesiano, minha irmã começou a jogar vôlei e me interessei pela modalidade.
E: Quais foram as suas conquistas?
R: Na época de estudante, joguei vôlei pela Seleção Sergipana. Participei de vários campeonatos brasileiros representando o estado. Assim que me formei em Educação Física, aceitei o convite de ser técnico da Seleção Sergipana de Vôlei. Fiquei durante seis anos. Atualmente sou técnico, mas a nível escolar.
E: Qual a realidade do vôlei sergipano?
R: O grande problema é a falta de investimento e de intercâmbio com outros estados. As pessoas que administram o vôlei sergipano deixam a desejar. Está na hora de mudar o presidente da Federação Sergipana de Vôlei, pois já são 10 anos à frente da instituição. A federação também precisa realizar mais competições. Os próprios clubes de Sergipe não têm interesse em investir na modalidade e há mais de três anos que não acontece um campeonato. Atualmente, a realização de torneios fica por conta dos estabelecimentos de ensino.
E: O caminho de Vinícius seria retornar ao vôlei de quadra?
R: Acho que o vôlei de quadra aqui é “morto”, a verdade é essa. Passa da etapa escolar, e é “morto”. Acho que o caminho para quem quer viver do esporte, como Vinícius, que sempre teve essa meta, seria o vôlei de praia. Por exemplo, o Circuito Banco do Brasil roda o Brasil inteiro. Vinícius tecnicamente é bom jogador, mas é um menino pobre, entendeu? Vai ter dinheiro para pagar uma passagem! Não estou falando de alimentação nem de hospedagem. O torneio de categoria adulta se resume a um “campeonatozinho” que se faz ao final do ano com quatro, cinco e até seis equipes, mas sem dinheiro, sem uma premiação boa. Qual a motivação que o garoto vai ter para viver disso? Ser amador? Não vai querer.
E: Como foi a parceria entre você e Vinícius no vôlei de praia?
R: Eu fui professor de Vinícius quando ele tinha 12 anos. Ele estudava no Dom Luciano e treinava na categoria infantil. Ele insistia muito para jogar com os meninos da categoria juvenil. Como ele era muito guerreiro, foi evoluindo nas quadras. Posteriormente ingressou no vôlei de praia ao participar do Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia Sub-18. A partir daí aceitei ser seu técnico e arranjei um parceiro para jogar ao seu lado.
E: O que mudou na vida de Vinícius como jogador?
R: O que mudou na realidade foi a partir do momento em que ele teve o patrocínio do Bingo Palace.. E aí realmente foi quando houve uma grande evolução de Vinícius. Porque chegou mais material, mais bola, viagens, hospedagem, alimentação, tudo pago pelo Bingo. A partir deste patrocínio Vinícius disputou o Campeonato Brasileiro Sub-18 de Vôlei de Praia (conhecido por Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia). E como eu ainda era técnico dele, fui chamado por Marcelo, dono do Bingo, que perguntou quais as reais condições de Vinícius. “classificá-lo para a Olimpíada de 2012”, disse. Ao empresário, quatro anos atrás, quando Vinícius tinha 17 anos.. Em 2006 Vinícius conseguiu uma parceria com um menino do Espírito Santo, de 2,07m. Neste mesmo ano, o empresário de Vinícius fez a seguinte recomendação: “Vinícius, Sergipe está muito pequeno para você. A culpa não é pela qualidade do seu treinador, mas pela qualidade de outros garotos que vão estar treinando com você. Então, está na hora de você sair. E você vai ter que sair”.
E: Daí para frente o que aconteceu?
R: O empresário bancou a viagem de Vinícius e do parceiro para Fortaleza. Eles ficaram treinando juntos com um novo técnico e eu fiquei em Sergipe.Vinícius passou um ano lá. Com o problema agora dos bingos, os bingos fecharam, né. E a primeira coisa que Marcelo falou foi: “Infelizmente até segunda ordem, até se resolver o impasse, a minha liminar (estava funcionando com uma liminar) foi suspensa e eu não estou podendo lhe ajudar mais”. Vinícius hoje, praticamente parou.
E: Você está preparando um substituto de Vinícius para o futuro?
R: Se Vinícius, de 21 anos, com o nível que ele tem não tem um a patrocínio, não seria eu a me preocupar em formar um jogador de vôlei de praia. Mas Quando Vinícius foi para Fortaleza naquela época, eu continuei treinando o parceiro dele aqui em Sergipe, Thiago Vaina. Só que o parceiro teria mais um ano para chegar à categoria sub-21, mas como o patrocínio com o bingo acabou, Thiago já não vai mais participar dos torneios de vôlei.
E: Quais são as metas para o futuro?
R: Como também trabalho na Secretaria de Estado do Esporte e do Lazer, pretendo realizar um trabalho de base nas equipes de voleibol. A minha idéia com isso é formar pré-seleções com garotos que disputam os campeonatos escolares. Essa pré-seleção é uma preparação para a seleção infanto-juvenil, até 16 anos para o feminino e 17 para o masculino, além da juvenil. Pretendo fazer um trabalho de interiorização do voleibol porque tem material humano muito bom no interior. Se acontecer isso, tenho interesse em poder colaborar. Por fim, sou realista e sempre penso mais: pretendo ser o técnico da Seleção Brasileira de Voleibol. Hoje eu tenho o curso de nível 2 da Confederação Brasileira de Vôlei e posso assumir qualquer seleção do Brasil infanto-juvenil, juvenil ou adulto
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