Em busca das metas no Sergipe: discurso de Rafael Córdova
Se o problema for se adequar ao ambiente de trabalho, isso não é problema para o goleiro Rafael Córdova. Chamado de paredão por muitos torcedores, principalmente nas redes sociais, foi o mais aguardado e festejado pela torcida na festa de apresentação do elenco, que aconteceu no mês passado. “Minha carreira faz 20 anos e eu nunca fui tão bem recebido em um lugar”, ressalta o arqueiro, logo após mais um dia de treinos no campo 2 do estádio João Hora de Oliveira.
Após a boa recepção, o goleiro volta aos trabalhos. Tenta conquistar mais um título na carreira, apesar desta palavra não ser comum para Córdova há dois anos. Acha comum o clube ficar duas temporadas sem título, até porque, quando defendeu o Remo, conseguiu ajudar o clube a sair da fila de seis anos sem estadual.
E pretende encerrar a carreira bem, bem em forma. quer pendurar as luvas daqui a dois anos, Caso o clube sergipano conquiste o título e melhore , a carreira do arqueiro pode ser prolongada para mais um ano.
Apesar da rejeição em falar, disse que já posou nú para uma revista masculina.
Rafael Córdova está ansioso para a chegada do estadual de 2016. E não é para menos: o arqueiro, de 38 anos, tem a difícil missão de ajudar o clube a conquistar o título em ano cujo calendário será apenas o Campeonato Sergipano – se ficar com o vice, necessita que o Confiança seja campeão, mais uma vez, para conseguir
E a conquista do título pode fazer com que o goleiro prolongue um pouco mais a carreira de goleiro. A expectativa dele é pendurar as luvas daqui à três anos, ou seja, em 2018, quando completa 41 anos.
Como se sente no segundo dia de retorno ao Nordeste?
A gente vem para cá com a perspectiva de um torcedor carinhoso. A partir da hora que eu cheguei aqui, mudou, foi muito mais do que eu esperava. Eles me abraçaram como se eu estivesse jogado aqui em outros anos, como se eu tivesse títulos aqui. E isso é como eu destaquei a um mês atrás: minha carreira faz 20 anos e eu nunca fui tão recebido em um lugar. Isso só tem a me motivar para começar este campeonato forte, a buscar cada dia meu melhor. Eu não venho aqui para resolver, para tentar não sofrer gols, porque isso é impossível para um goleiro. Desde o pior goleiro: sempre vai ter falhas, sempre vai ter gols. Mas se a gente trabalhar sério, todo dia, arduamente, acho que os erros diminuem e a gente pode fazer boas partidas aqui no Sergipe.
Consegue se ambientar pelo pouco tempo aqui?
Como sou o cara mais velho, já joguei, praticamente, contra quase todos. Jaílson, que é atacante, jogou comigo no CRB em 2003, o Marcinho Beija-Flor, que é de Florianópolis também, e estou acostumado a jogar pelada lá juntos. Márcio (Santos, zagueiro), do Paysandu, de 2009 e 2011. A gente vem aqui para vencer. Ninguém está vindo aqui pra rodar, pra praia. Eu estou aqui porque tenho 36, 37 anos e quero algo mais. E a gente quer chegar aos 39, 40, principalmente o goleiro. Eu tenho que agradecer o Sergipe que me abriu a porta, que me fez esse convite. O torcedor me abraçou. E a única coisa que eu posso prometer ao torcedor é muito trabalho e muito empenho. O torcedor que vier aqui ao estádio vai perceber que o Rafael é um dos primeiros a chegar e o último a sair, pois eu me dedico ao máximo e falta três anos para terminar a minha carreira e eu tenho que terminar bem.
Você acabou dizendo em outras entrevistas, em outros canais de comunicação, que você acaba aos 40 (anos). Vai prolongar por mais um?
Do ritmo que estou treinando aí, depois você faz uma entrevista com o João (Ricardo, segundo goleiro) e com o Jonathan (terceiro goleiro). Eles já falaram: “tu não tem 37 não!” Pois a gente se cuida. Faz um ano e meio que eu segui uma vida diferente da que eu seguia. Acho que eu era um jogador de futebol, hoje eu sou um atleta. Eu me cuido: desde a parte da alimentação até a parte da família: é daqui pra casa, de casa para o treino. Acho que chegou a hora de eu me doar ao máximo nestes três anos. É fazer um sacrifício a mais para a gente conquistar mais alguma coisa, para depois usufruir destas férias que vai ser para o resto da vida.
Como está sendo o trabalho juventude e experiência aqui no Sergipe? Você já viu isso? Será que isso dá certo?
A maioria das vezes eu até vi, pois a gente roda bastante e tem uma filosofia de outros clubes. O pessoal aqui, além de ser jovem, é um jovem experiente, de base de time de Série A, de time de Série B. Na minha época de junior e juvenil, só tínhamos o campeonato regional para se disputar. Hoje você vê um sub-20 que disputa Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e aí eles vão pegando esta canja, esta experiência. Quando eles chegam aqui, parecem um veterano, pois eles cobram dos mais velhos como se eles tivessem jogado 15, 20 anos. É importante esta mescla entre experiência e juventude, frisando que esta juventude é pela idade, não por falta de experiência no futebol.
Você se aposenta no Sergipe?
É uma pergunta até satisfatória. Até brinco com os diretores aqui. Mas, primeiro vou tentar dar um passo bom aqui, tentar dar uma classificação, principalmente para a Série D. Vou tentar uma classificação para a Copa do Nordeste. Depois de tentar buscar este título tão sonhado pelo torcedor há dois anos, que já está merecendo, e se houver uma proposta boa do Sergipe, não vou medir esforços. Eu gosto do Nordeste, eu gosto de um time que tem uma torcida de massa e carinhosa como a do Sergipe.
Pensa um dia retornar para o Vitória, Paysandu, Remo...?
Única equipe hoje que me balança, pois aprendi a gostar, foi o Paysandu. Eu ganhei o título em 2009 e fazia seis anos que só dava Remo. Imagina o que era chegar lá e ver uma torcida carente como sendo a do Sergipe. Aqui é dois anos, lá foi seis anos. E lá é um fanatismo de um tirar onda do outro e aquilo machuca o torcedor do Pará. O carinho de lá é o mesmo que me refiro ao torcedor do Sergipe. Eu acho que eu sou um cara que se doa muito pela camisa. Tanto é que dificilmente eu jogo pelo rival, pois quando eu visto a camisa, eu acho que encarno o espírito do torcedor, levo para dentro de campo. E cada gol para mim é como se fosse uma tristeza para o torcedor também.
O que é ficar dois anos sem levantar uma taça de campeão?
É ruim para mim, pois sou acostumado a ganhar. Desde os 15 anos, quando eu estreiei pelo Avaí que, no primeiro ano como profissional, já fui campeão da Copa Santa Catarina contra o Joinville. Depois fui para o Grêmio, sendo campeão, quase tudo, da base. Era o terceiro goleiro na Copa do Brasil. Passei 1999, 2000 e 2001 pelo Gama-DF. Pelo Fluminense de Feira de Santana, fui campeão da Copa do Interior. Depois, foi no Vitória em 2006, 2007 e 2008... cheguei na Sèrie C, sai de lá na Série A. Devolvemos o Vitória para a Série A. Depois fui campeão brasileiro pelo Atlético Goianiense, campeão pelo Paysandu e na maioria dos clubes fui campeão. Agora, Deus vai me honrar pra ser campeão aqui no Sergipe também.
Acredita-se que o futebol não é o seu carro-chefe, não é o seu sustento. Já foi capa de revista, modelo, quase participou de um programa na Record. Como você tenta conciliar estas duas vidas (futebol e vida social)?
Primeiro, foi uma oportunidade que eu tive no Vitória-BA. Faltava três meses para encerrar a minha carreira. Antes disso, eu falei com o presidente: “Vai ter interesse em renovar?”. E ele disse: “todo mundo já quer renovar contigo”. Aí eu falei: “Eu tenho uma proposta de uma revista e será que isso não vai atrapalhar?”. Ele era até empresário da Daniela Mercury. Ele até indicou um outro agente em São Paulo para cuidar das coisas e eu fui. A revista era a G Magazine. Fui e, quando voltei, ele me chamou e disse: “Rapaz, os diretores não gostaram e tal”. Naquele momento, eu fui pois ele tinha me dado o aval de que eu iria renovar. Voltei e acabou que pegou os diretores tudo de surpresa. Já tinha acontecido isso com o Roger, no São Paulo. Quando ele chegou no Vitória, começaram a pegar no pé dele, não aguentou, acho que por muita pressão. Mas isso já passou. Ano passado, apareceu o negócio de participar da “A Fazenda” para mim. Aquilo divulgou no Brasil inteiro denovo. E aí já começa a atrapalhar as contratações, porque aí lembra o Rafael como se fosse da revista, como se fosse da “A Fazenda” e não como dentro de campo que já conquistou vários títulos. Então isso a gente deixa para trás. Estou há um ano e dois meses na igreja com minha esposa e meus filhos. E eu acho que esse caminho que encontrei é muito melhor. Se eu tivesse esse caminho antes, acho que, com certeza, eu estava muito melhor do que eu estou.
Você não pretende sair mais do futebol?
Não. Aquilo foram duas coisas passageiras. Uma foi a revista e a outra foi aquela polêmica toda. A esposa não deixou, e aí eu já cortei logo.
Foi questão financeira?
(Não ir) foi questão da minha esposa mesmo que eu conheci. Ela é muito ciumenta. A partir da hora que ela se negou e disse “Rafael, não conversamos mais sobre isso”, então eu botei um ponto final, liguei para o cara de São Paulo e disse: “não bota mais meu nome que eu não vou”. Ele aceitou numa boa. Na época da revista, eu tinha que aproveitar a situação. Cada evento que eu ia, todo dia, era R$ 1,5 mil, R$ 2 mi. Então era um pé de meia que eu fiz em um mês. Eu sabia que aquilo era passageiro até sair o próximo. Então, eu ainda me perguntei para vários que jogaram comigo, como Vampeta, Dinei Roger, muitos jogadores. Eles falaram: “Rafael, aproveita o máximo este momento que depois eles te esquecem”. Mas não esqueceram. Todo clube que eu vou, carrego isto nas costas e isto tenho que levar.
Qual a projeção de futuro de Rafael Córdova?
É tentar fazer com que a gente se classifique para a Série D, classifique para a Copa do Nordeste. De lutar, trabalhando muito, porque a gente sabe que (Campeonato Sergipano) é muito difícil, que se equilibrou muito. O Confiança deu um passo na frente há dois anos, o Estanciano jogou (Brasileiro) este ano, apesar das dificuldades financeiras. Mas eu acho que o Itabaiana vem forte também. Vai ser uma briga grande do pessoal do interior com o da capital. E pro Sergipe é sempre mais difícil, porque todo mundo quer vir jogar aqui. Eu já vivenciei isto na maioria dos clubes que era de ponta. Quando time pequeno vem, eles querem atropelar, eles querem mostrar. Chegam aqui, contra nós, dão a vida e empatam em 1 a 1. Quando chega no interior, a gente toma quatro, cinco e a gente não entende. Mas é a motivação que cada atleta tem em vestir a camisa do Sergipe
Como é que você pretende ser reconhecido?
Quero ser reconhecido pelo meu treinador, pelo meu grupo. Quero ter uma liderança boa, de conversa, de explicar as coisas que eu errei pra lançar para eles. Fazer com que este clube volte para o cenário nacional, classificando, subindo posições. Quem sabe uma Série D ainda este ano. A gente (o estado de Sergipe) já subiu para a Série C. Que maravilha para o torcedor. Então é isso que vou tentar encarnar, tentar passar para o torcedor, junto com Márcio (zagueiro), Marcinho (Beija-Flor, atacante), o professor. E conversar para que todo mundo tenha a mesma vontade e determinação que eu.
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