segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Caratecas chegam com medalhas no peito do sul-americano no Chile

(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
A Seleção Sergipana de Karatê Escolar disputou nos dias 21 e 22 de outubro o Campeonato Sul-Americano de Artes Marciais, em Viña del Mar-CHI. Eles fizeram parte de um todo: de 74 caratecas brasileiros, 28 representaram Sergipe na competição sul-americana. Mas todos os 28 atletas que representaram a equipe sergipana conquistaram medalhas, seja ela de ouro, prata ou bronze. E todos eles trouxeram alguma conquista no peito, seja o garoto de 7 anos ou o adulto, Bruno Froye, de 41 anos. 

De quebra, todos os atletas sergipanos se classificaram para o Pan-Americano de Artes Marciais, que será realizado, em 2018, no Equador. Atletas de diferentes níveis, sejam as professoras como também os alunos de diferentes níveis sociais, com situações que não permitiriam disputar competições, quem diria viajar para fora do país.

O dirigente da Federação Sergipana de Karatê Escolar (FESEKE) e técnico da Seleção Sergipana, Yoakan Jócelis, ficou satisfeito com o trabalho construído no Sul-Americano e retrata o Chile como um grande desafio para a delegação. “Nós tivemos 28 atletas: 28 subiram no pódio. Claro, alguns subiram no lugar mais alto, mas todos os sergipanos estiveram entre os melhores. Isso foi uma grande satisfação. E a gente conseguiu o objetivo final que era subir ao pódio, porém conquistamos muitas outras coisas mais importantes, como... Eu percebi que os atletas nossos fomentaram muito a amizade, fomentaram muito esse ciclo importante para o engrandecimento pessoal. Uma troca de agasalho, que não é simplesmente a troca da blusa, mas sim da energia que você colocou dentro daquele agasalho. Isso fez com que a gente ficasse muito mais feliz, não só pela medalha, mas pela formatação de que os nossos atletas foram em busca de algo a mais”, completou. 

Yoakan explica que o trabalho desenvolvido pelos caratecas sergipanos foi muito coeso. Para ele, dentre as lutas que ficou na memória, o dirigente e professor destacou a de Luis Fernando, o Fernandinho, de apenas 8 anos. “Um garoto de 8 anos do projeto Fumaça Zero. E a categoria era absoluta. E Fernandinho é muito pequeno para 8 anos e lutou com um garoto de 1 metro e 45 – Fernadinho tem 1 metro e 20. Em nenhum momento houve medo, restrição dos pais. E eu, técnico da seleção, perguntei para ele: “E aí vamos encarar? Vamos ganhar?” E ele olhou pra mim e disse: “Vamos ganhar!”. E ele deu de 5 a 0. A luta foi fantástica . Eu levantei, vibrei, chorei junto com ele, chorei junto com os pais. Foi o grande exemplo da Seleção Brasileira”. 

Para os demais caratecas sergipanos, a experiência no Pan-americano foi muito boa. Confira o que alguns deles disse ao Esporte-SE: 

(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
Sheila Camila, 22 anos, ouro no point fight individual, ouro no point fight por equipe e prata no kumitê

“Como um todo e no geral, não fiquei tão satisfeita, porque um atleta quando vai para uma competição sempre quer estar no primeiro lugar, nunca quer (perder) nem que seja uma pequena derrota, como foi no kumite individual, que eu acabei, num vacilo meu mesmo...coisas que acontecem em competição que, quem menos erra, é quem leva vantagem e consegue sobressair melhor. E eu fiquei em segundo lugar. Mas, fora isso, a competição foi maravilhosa, uma experiência muito boa, porque nós estamos acostumados a competir e treinar em lugar quente. Então lá, tinha sempre que manter o aquecimento, mais roupas abaixo do quimono, roupas térmicas para manter o aquecimento porque, sem estar aquecida, pode aparecer lesões e o corpo não responde da mesma forma, se o corpo estiver frio ou aquecido”.   

“Eu, como também sou professora do projeto Fumaça Zero, acho que consegui passar mais experiência para as outras pessoas e absorver experiências, porque tudo que acontece na nossa vida é só para o aprendizado. Mas, como o professor Yoakan citou também, nosso aluno Fernadinho mostrou lá que, independente de tamanho, a vontade de vencer é mais importante. E trago para cá uma lição que, nem sempre, o campeão é aquele que está em primeiro lugar. O campeão é todo mundo! Só a batalha para conseguir chegar lá, a campanha, receber muito não e, mesmo assim, continuar persistindo e ir para um país...sair do nosso país e ir para um outro lugar e lutar com mérito, lutar com garra. Foi muito gratificante”. 

(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
Sobre as duas medalhas de ouro conquistadas no point fight – festival de artes marciais – tanto no individual como por equipes, a carateca explica que precisou mudar toda a estratégia para vencer uma lutadora de taekwondo do país anfitrião. Sheila completa que os golpes aplicados na adversária foram aprendidos no próprio torneio. “A gente que luta está sujeito a aprender aquela coisa no momento. Então usei um golpe que eu aprendi na competição, naquele momento: observando, estudando a forma de ganhar, de vencer. E graças a Deus deu tudo certo!”. 

“Quero agradecer primeiramente a Deus por ter me dado a oportunidade desse porte, que foi o Sul-Americano. Agradecer as pessoas que compraram meu copo. Agradecer a Marcos Material de Construção, a FX Contabilidade, a clinica BioFisio, Start – Treinamento Funcional, que me auxilia, como professora do karatê, a melhorar meu condicionamento físico – e a E-Print”.

(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
Alessandra Antonio, 15 anos, ouro no kumite, prata no kata e ouro no point fight individual

“Esse ano eu não esperava participar de competição tão importante na minha vida. Esse ano foi um ano de realizações. Essa viagem trouxe muita experiência para a minha carreira de carateca. A competição foi ótima. Graças a Deus trouxe ótimos resultados dessa viagem. E nas próximas competições espero ficar em todas as colocações, principalmente em primeiro lugar”.

“A mais importante dessas três foi o segundo lugar no kata. Porque, por mais que você fique em primeiro ou segundo, mas você precisa melhorar, nunca está bom. Porque próximo ano vem aí, você treina mais pra ficar em uma ótima colocação. Segundo lugar foi um incentivo pra treinar mais, se esforçar mais pra, no próximo, você conseguir aquela medalha de ouro.

“A coisa mais importante foi a união da Seleção Sergipana e a questão de participar: é importante você participar e conseguir medalhas, mas o mais importante é o conhecimento, o que você vai ganhar desta competição, desta viagem. Você não ganha só medalhas, mas você ganha amigos, você ganha aprendizagem; tem a dificuldade que você passa lá também, a dificuldade que a gente enfrentou aqui pra conseguir chegar lá”.

(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
Sobre as lutas no point fight, ela afirmou: “É um obstáculo. A menina que eu lutei no point fight era do taekwondo. Ela usava mais perna, você se defende e usa mais o seu lado do karatê, que é os braços. É uma forma de você testar o seu karatê de outras maneiras”.

“Quero agradecer ao apoio dos feirantes e dos clientes dos meus pais, pois a gente trabalha na feira. E o apoio e a confiança que as pessoas me passavam pra viajar pra fora do país. O que me ajudou a chegar lá foi o apoio dos feirantes, a campanha dos copos. Queria agradecer, do fundo do meu coração, a todos”.



(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
Emerson Viana, faixa marrom, 19 anos, ouro no kata e ouro no kumitê”

“Cada vez mais a gente consegue ganhar mais experiência. Por não ser o primeiro evento internacional – eu já participei de um campeonato na Argentina – e, então, eu já tinha uma experiência. Então, a cada competição eu vou aprendendo mais, ganhando mais experiência, fazendo mais amigos, mostrando o meu trabalho que eu venho galgando através dos tempos. Mesmo sem patrocínio, sem muito apoio, mas a gente sempre se envolve nesse meio aí para poder estar sempre participando desses eventos, tanto nacionais como internacionais. Então, basicamente, seria mais experiência”. 

“Esse evento ensinou muito pra nós atletas que não podemos desistir de jeito nenhum. Mesmo sabendo a situação crítica do nosso estado, do nosso país, e a gente correu atrás: muitos vendendo copos, eu fazendo rifa, indo atrás de um, atrás de outro, indo em amigos e cada um ajudou: isso foi muito importante. Foi um aprendizado de você nunca abaixar a cabeça. Você está ali, quase desistindo, mas vai ter uma pessoa que vai te levantar, te dar a mão. Então isso foi muito importante, não só para mim, mas para todos os colegas da delegação. E, sinceramente, estou muito feliz em fazer parte desta equipe. E posso dizer com toda a certeza do mundo: que a Seleção Sergipana é ouro!”

(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
“A dificuldade que todos nós tivemos, pois não foi só eu: pelo simples fato de estar em um lugar totalmente diferente, com um clima adverso. Nós do Nordeste estamos acostumados com 29, 30 graus, e, chegar lá no Chile, é uma coisa totalmente diferente: a gente pega 10 graus, 12 graus, e isso implica muito. Os músculos começam a pedir mais aquecimento. E isso dificulta muito: você tem que estar sempre aquecido. E em relação aos méritos, sempre você tem que fazer o que você treina: se nós treinamos xis coisas, então no dia da competição não podemos querer inventar e fazer firulas. Temos que fazer tudo o que nós treinamos e, com certeza, consequentemente virão bons resultados”.

Sobre a diferença entre o Mundial e o sul-americano, o carateca explica: “No Mundial era bem diferente: foi o primeiro evento internacional. Eu era um pouco mais leigo, mas tinha um certo receio. Já nessa não: já fui com um pouco de experiência, sabia o que eu tinha que fazer, o que eu precisaria fazer para chegar lá, e consegui um bom resultado. Graças a Deus, tudo o que eu treinei eu pude botar em prática lá e trazer as medalhas de ouro para o meu estado e para o meu país”.


(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
Davi Lucas, 10 anos, ouro no kata, bronze no kumite, prata no kata dupla e ouro no point fight

Para o jovem carateca, conquistar as medalhas foi uma honra. “Tenho treinado muito para não ter errado. Mas, graças a Deus, deu tudo certo. Treinei bastante para não errar nada e pra não fazer nada errado. Para não fazer igual da última vez que eu fiz em um campeonato, que errei uma parte. Treinei muito, mais de um mês uma parte só daquele kata. Então me dediquei muito para não errar”
(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
“Eu já fui para o Peru e lá eu conquistei dois ouros e um bronze”, completou, sem lembrar o nome da competição.

O garoto listou os motivos que o fizeram conquistar as medalhas no Chile: “Todos os treinos todas as semanas...todos os dias, quero dizer. Muita dedicação para não errar”.



Mordecai Santos, 16 anos, ouro no kata, bronze no kumite, prata no point fight e bronze no Desafio de Artes Marciais 
(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
“É uma satisfação competir em campeonatos sul-americanos. Já classificado para o Pan. É muito entusiasmante. Eu que vim de bairro pobre, conheci o caratê pelo colégio, continuei, estou aqui e não quero desistir. O karatê se tornou minha vida, meu principal meio de vida, porque sem ele não sou nada. É super gratificante você ver o resultado do seu treinamento, o seu esforço. Ver o estado ajudando, principalmente o pessoal da Gojetan, que me ajudou e muito, pelo pessoal do estado; a SEED. E é muito gratificante saber que fui capaz de viajar e se classificar, com todos os amigos, o pessoal dando o apoio. É muito bom”. 

Quanto às conquistas mesmo com poucas condições de bancar as despesas do dia a dia, ele afirma: “Dá orgulho da gente, porque a família é de (classe) média. Mas a gente consegue, corre atrás. A gente consegue tudo. E o karatê é muito bom, porque eu quando entrei todo mundo dizia: “Esse aí vai parar, não vai pra frente”. E hoje estou aqui na faixa verde, sou campeão sergipano várias vezes, campeão brasileiro, campeão sul-americano agora. E é muito gratificante você sentir uma sensação boa dentro de si. Sente um gozo”.

“Foi uma competição boa, porque pra você ir para um sul-americano que todos os países da América do Sul estão lá, e você conseguir se classificar no meio de tantos peruanos, chilenos, argentinos, é muito bom. Aquela gratificação. E eu com o meu karatê sempre ganhando medalhas, sempre tirando títulos e mais títulos, é muito bom”. 

(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
“Eu pude compreender que, na hora da luta, você tem que ser que nem um leão: você tem que entrar e ser você, você e só você. Porque você vai lá só para competir, mas tem gente que vai pra te derrotar, pra ver você cair triste. Você tem que ir lá com toda a força, toda a garra, toda a vontade de vencer e se classificar. E vencer e continuar vencendo”. 

O carateca, que não se garante imbatível, revela que faz de tudo para se tornar o melhor dos melhores. E sonha alto: quer disputar a Olimpíada de Tóquio, em 2020. “Estou tentando. Treinando, treinando e treinando para encaixar nas Olimpíadas”.

(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
Iasmin Nascimento, 22 anos, ouro no kata, prata no kata dupla e prata no kata trio 

“É muito gratificante e uma responsabilidade imensa. A gente que é mais velho e mais experiente, temos que passar para os mais novos. É uma sensação do tipo: “poxa, velho, vamos lá”. Entendeu?”.

“Em relação a campanha dos copos, foi uma campanha muito importante para a gente, porque muitos não tinham o apoio nem do governo, nem de um patrocinador. Então foi uma luta muito grande, porque muitos pensaram em desistir, só que os mais velhos ficaram incentivando pra não desanimarem. E em relação ao apoio da psicóloga, foi justamente para isso: para a gente não desanimar, independente do resultado que a gente fizesse lá”. 

A carateca, que também é professora, considera que o ouro no kata individual foi o mais importante. “Porque, uma semana antes da viagem, eu adoeci, passei a semana toda parada, sem poder fazer nenhuma atividade física. E em relação também ao frio lá, porque o kata que eu fiz exigia muito equilíbrio, muita força...e o frio atrapalhou um pouquinho. Mas eu consegui chegar lá, fazer o melhor e consegui o título”. 

(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
Sobre lutar com desafiantes de outras modalidades, a carateca fala: “É totalmente diferente do que está acostumado. Porque aqui a gente só compete com as pessoas do karatê. Então, é diferente chegar lá e lutar com pessoas de outras modalidades. Mas é bem interessante a experiência”. 

“Eu gostaria de agradecer ao meu patrocinador – a União Engenharia – por todo o apoio desde 2013 e a todos os familiares e colegas que sempre me apoiaram e estiveram do meu lado. Obrigado”.

(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
Marcus Vinícius, 12 anos, ouro no kumite, prata no point fight e bronze no kata

“Mais importante para mim foi o kumite, que eu treinei muito, e o kata. E o point fight foi minha primeira vez de estar participando...também gostei muito. Me dediquei muito para conseguir ir pra o Sul-Americano: consegui a passagem, a viagem, a hospedagem. Graças a Deus eu fui, trouxe bons resultados. Subi nos três pódios: primeiro, segundo e terceiro. Daqui pra frente só tenho de agradecer ao pessoal que me ajudou, a comunidade lá do projeto Fumaça Zero, aos familiares, a Deus também”. 

Sobre as conquistas, ele completa: “A sensação é ficar muito alegre. Me emocionei na hora. Também valeu o esforço de cada dia. Foi muito bom”. 

(Crédito: Rômulo Oliveira/Esporte-SE)
Marcus Vinícius resume o que é lutar contra atletas de outras modalidades no point fight: “É difícil. A gente luta com uma pessoa que nem conhece, que faz outra arte marcial diferente, mas graças a Deus eu consegui: fiquei em segundo. Mas é dificilzinho, ele ficava ali só no pezinho, pezinho alto. Meio complicado”.

“Só quero agradecer primeiramente a Deus, a minha família e o projeto lá da comunidade que me ajudou. Só! Agora é treinar, treinar pra próximo ano ir pra Colómbia...oh, Equador! Me atrapalhei”.

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